segunda-feira, 12 de julho de 2010

Boa Morte



Acabei de assistir "You Don't Know Jack", mais uma produção incrível da HBO, que além de trazer a interpretação finíssima de Al Pacino como Jack Kevorkian , é recheada de uma discussão pesada sobre eutanásia. O termo, que em grego significa "boa morte" é visto por alguns como uma forma de homicidio e por outros como suicídio assistido.

Assim, é conveniente primeiramente distinguir os termos. Se vista sob a ótica do juramento de Hipócrates, a eutanásia pode de fato ser interpretada como homicídio, visto que segundo o preceito hipocrático o médico não pode ser juiz da vida ou da morte de alguém. Contudo, convém apontar que o doente, que por vezes sofre dores excruciantes, tem o direito de arbitrar sobre o quanto deseja viver. Assim, apesar de ir contra o consagrado juramento, a eutanásia é antes de tudo um direito a autodeterminação. Ademais, moléstias diversas são crônicas, o que torna constante as dores do paciente, que apesar de dispor das avançadas medidas paliativas, não tem suas debilidades físicas suprimidas. No Brasil, esse evento é ainda mais trágico por medicamentos como a morfina, analgésico pesado e fundamental no combate de dores agudas, serem utilizados parcamente, o que reflete em pacientes com mais sofrimentos.


Quanto a comparação de eutanásia com suicídio assistido, uma distinção deve ser feita. Enquanto que no primeiro um terceiro executa o processo, o segundo ato é provocado pelo próprio doente, mesmo que para isso receba auxilio de outras pessoas.

É estranho como o homem, ser de natureza altruista é paradoxal às vezes. O processo da eutanásia é legalizado para qualquer animal que não seja o Homo sapiens. Quando cães e gatos estão agonizando por algum caso de câncer, o ser humano sente-se no dever de sacrificá-los para por um fim a seus sofrimentos. Contudo, quando trata-se de doentes em estados terminais na área de oncologia, a conversa é um pouco diferente. É estranho como recorrem a preceitos morais quando a vida humana está em jogo, mesmo que essa atividade vital não seja desejada pelo dono da própria vida. Argumentos de cunho religioso são praxe, como os que proclamam a vida como um direito divino e que cabe somente a Deus o direito de tirá-la. Deus, nesse caso, está talvez sendo um pouco desatento quanto ao sofrimento de seus súditos por não deixar o usofruto do livre-arbítrio comumente conclamado.
A melhor resposta que encontro para esse caso é a que o próprio "dr. morte" utilizou para repelir a alegação de um fanático que o abordou dizendo que o direito a morte é algo que cabe somente a Deus decidir. O médico nesse caso diz "bem, Deus para mim é Bach e diferentemente do seu Deus, o meu existiu". Seria sagaz uma abordagem desprovida de qualquer cunho religioso a respeito da eutanásia, pois esse procedimento é antes de tudo uma forma de beneficiar pacientes que perecem por dores inimagináveis por nós, acostumados a pequenas cefaléias e dores no estômago.

3 comentários:

  1. Sempre interessantes suas abordagens Joaner!Pelo visto vc concorda com a posição do ministro Carlos Ayres Britto.Acho importante destacar q os sacrifícios de animais vem sendo reduzidos devido aos avanços da medicina veterinária. Gostaria de saber sua posição quanto a ortotanásia.

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  2. tem outro filme interessante sobre o assunto, que se chama Mar Adentro

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  3. Diga lá goiana! Desculpe não ter respondido antes, é que vi seu comentário só hoje. Quanto a ortotanásia, por ser bem menos controversa que a eutanásia, acho uma atitude lógica de se fazer. Prolongar o sofrimento do paciente que padece de moléstias incuráveis é antes de tudo um ato pouco humano. Vou conferir o "Mar Adentro", obrigado pela sugestão.

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