quinta-feira, 15 de julho de 2010

"I wanna do bad things with you"


True Blood é de fato, junto com as obras de Annie Rice e o filme sueco "Let the Right one In", uma das poucas boas adaptações da mitologia vampírica criada por Bram Stoker. A série não deixa a desejar em vários aspectos: possui personagens complexos com personalidades carismáticas e pouco típicas, como Lafayette e seu jeito peculiar de conversar, Eric com seu caráter completamente dual e imprevisível e Bill, um vampiro mais humano que vários homens. Além disso, conta com uma trilha sonora fantástica, com uma abertura ao som de "Bad Things" de Jace Everett, bem a cara da série, que mostra e cria um climão de superstições antigas, religiosidade e fanatismo. True Blood é antes de tudo uma metáfora de extremos com um estilo "gótico sulista" de Lousiana, onde os personagens, com seus sotaques tornam-se marcantes e contribuem para aclimatar a série.Ademais, o programa é também bem fiel ao mito do vampiro, que ao contrário das adaptações modernas como as de Stephenie Meyer, mostra como a sociedade vampírica é formada, com seus reis, rainhas e xerifes; além de também retratar a subordinação e o respeito que os vampiros têm pelos companheiros mais fortes, de maior ascenção na linhagem de sangue. Ao contrário dos chupadores de sangue de Crepúsculo, os vampiros de True Blood provavelmente sentiriam-se ofendidos por poderem caminhar a luz do dia, brilharem como uma lâmpada incandecente, ou negarem sua natureza predatória, como é comum para os chupa-sangue de Meyer.
A série é um prato cheio para aqueles que apreciam vampiros e que buscam uma trama criativa, fiel e envolvente, capaz de fazer qualquer fã esperar ansiosamente por cada capítulo semanal. Recomedadíssimo ;)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

"I'm in your box messing with your paradox"


Venho dizer como surgiu, a partir de uma suposição bizarra, a expressão que deu nome ao blog. O "Gato de Schrodinger" foi uma metáfora criada pelo físico austríaco Erwin Schrodinger para ilustrar como a Física Quântíca é por vezes estranha e beira o bizonho em diversas situações. A comparação metafórica foi feita pelo físico para mostrar como a Interpretação de Copenhague (http://pt.wikipedia.org/wiki/Interpreta%C3%A7%C3%A3o_de_Copenhague), se levada ao dia-a-dia, pode mostrar-se paradoxal. O experimento ilustrativo proposto por Schrodinger consistia em mostrar como, de acordo com a mecânica quântica, um gato poderia estar vivo e morto ao mesmo tempo. A experiência consistia em relacionar, através de um "mecanismo diabólico", os efeitos quânticos a um corpo de grande escala, como um gato. Assim, por meio das própias palavras de Schrodinger:
"Qualquer um pode mesmo montar casos bem ridículos. Um gato é preso em uma câmara de aço, enquanto com o dispositivo seguinte (o qual deve estar seguro contra interferência direta do gato): em um contador de Geiger tem uma pequena quantidade de substância radioativa, tão pequena, que talvez durante o período de uma hora, um dos átomos decaia, mas também, com a mesma probabilidade, talvez nenhum; se isso acontecer, o tubo do contador descarrega e através de um relé libera um martelo que quebra um pequeno frasco de ácido cianídrico. Se algum deles tiver saído do seu sistema natural por uma hora, alguém pode concluir que o gato permanece vivo enquanto o átomo não tiver decaído. A função-psi do sistema poderia ser expresso por ter dentro dele o gato morto-vivo (com o perdão da palavra) misturada ou dividido em partes iguais. É típico desses casos que uma indeterminação originalmente restrita ao domínio atômico tenha sido transformada em uma indeterminação macroscópica, o qual pode então ser resolvido por observação direta. Isso nos previne de aceitar tão inocentemente como válido um "modelo confuso" para representar a realidade. Por ele mesmo ele não explicaria qualquer coisa imprecisa ou contraditória. Existe uma diferença entre uma fotografia tremida ou desfocada e uma foto de nuvens e neblina."

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Boa Morte



Acabei de assistir "You Don't Know Jack", mais uma produção incrível da HBO, que além de trazer a interpretação finíssima de Al Pacino como Jack Kevorkian , é recheada de uma discussão pesada sobre eutanásia. O termo, que em grego significa "boa morte" é visto por alguns como uma forma de homicidio e por outros como suicídio assistido.

Assim, é conveniente primeiramente distinguir os termos. Se vista sob a ótica do juramento de Hipócrates, a eutanásia pode de fato ser interpretada como homicídio, visto que segundo o preceito hipocrático o médico não pode ser juiz da vida ou da morte de alguém. Contudo, convém apontar que o doente, que por vezes sofre dores excruciantes, tem o direito de arbitrar sobre o quanto deseja viver. Assim, apesar de ir contra o consagrado juramento, a eutanásia é antes de tudo um direito a autodeterminação. Ademais, moléstias diversas são crônicas, o que torna constante as dores do paciente, que apesar de dispor das avançadas medidas paliativas, não tem suas debilidades físicas suprimidas. No Brasil, esse evento é ainda mais trágico por medicamentos como a morfina, analgésico pesado e fundamental no combate de dores agudas, serem utilizados parcamente, o que reflete em pacientes com mais sofrimentos.


Quanto a comparação de eutanásia com suicídio assistido, uma distinção deve ser feita. Enquanto que no primeiro um terceiro executa o processo, o segundo ato é provocado pelo próprio doente, mesmo que para isso receba auxilio de outras pessoas.

É estranho como o homem, ser de natureza altruista é paradoxal às vezes. O processo da eutanásia é legalizado para qualquer animal que não seja o Homo sapiens. Quando cães e gatos estão agonizando por algum caso de câncer, o ser humano sente-se no dever de sacrificá-los para por um fim a seus sofrimentos. Contudo, quando trata-se de doentes em estados terminais na área de oncologia, a conversa é um pouco diferente. É estranho como recorrem a preceitos morais quando a vida humana está em jogo, mesmo que essa atividade vital não seja desejada pelo dono da própria vida. Argumentos de cunho religioso são praxe, como os que proclamam a vida como um direito divino e que cabe somente a Deus o direito de tirá-la. Deus, nesse caso, está talvez sendo um pouco desatento quanto ao sofrimento de seus súditos por não deixar o usofruto do livre-arbítrio comumente conclamado.
A melhor resposta que encontro para esse caso é a que o próprio "dr. morte" utilizou para repelir a alegação de um fanático que o abordou dizendo que o direito a morte é algo que cabe somente a Deus decidir. O médico nesse caso diz "bem, Deus para mim é Bach e diferentemente do seu Deus, o meu existiu". Seria sagaz uma abordagem desprovida de qualquer cunho religioso a respeito da eutanásia, pois esse procedimento é antes de tudo uma forma de beneficiar pacientes que perecem por dores inimagináveis por nós, acostumados a pequenas cefaléias e dores no estômago.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Uma análise lúcida a respeito da transgenia




A transgenia e os alimentos transgênicos têm estado sob o foco midiático nos últimos anos. Não só por abordar questões políticas, como as práticas agressivas de empresas multinacionais e os efeitos da globalização, mas também pelas aplicações ambientais que as plantas geneticamente modificadas podem trazer. Seja lá como for, uma abordagem escrupulosa deve-se basear primeiramente em questões científicas, para depois ser discutida sob o âmbito político-econômico.

Um dos argumentos utilizados por ativistas contra os transgênicos é a alegação de que não são naturais, que foram criados geneticamente pelo homem e que exemplares naturais não existiriam. Há, contudo, uma deficiência na argumentação usada por esses manifestantes, visto que a grande maioria das variantes alimentícias consumidas pelo ser humano moderno sofreram seleção antrópica em algum estágio de sua vida. Assim, grãos como o milho conhecido hoje diferem em demasia de seu ancestral de grãos miúdos e secos, que mal serviriam de alimento para uma família de homens primitivos. A alegação, portanto, de que os transgênicos não são naturais é inocente por desconsiderar o fato de o Homo sapiens já ter modificado geneticamente seu alimento, via seleção artificial, desde o advento da agricultura no período Neolítico.

Outra tese pouco justificada é a de que os transgênicos provocarão um desastre ambiental com o surgimento de "superervas daninhas". A preocupação, nesse caso, é a de que as pragas assimilem parte do genoma das plantas que parasitam e tornem-se mais resistentes aos defensívos agrícolas. Essa justificativa, porém, é também frágil por desconsiderar a seleção natural e todo processo evolucionista, que invariavelmente cria orgaismos resistentes, independentemente da presença ou ausência de plantas transgênicas. Com a aplicação de uma pesticida, por exemplo, o agricultor seleciona as variantes da praga que são resistentes àquele agrotóxico e garante a formação de uma linhagem de organismos mais bem adaptados à lavoura, o que economicamente não é bem-vindo. Ademais, a despeito de gerar também pragas resistentes, os transgênicos evitariam a aplicação de agentes poluentes como o DDT ou Defensivos Agrícolas Organofosforados nas lavouras.


Em suma, para obter-se uma abordagem lúcida a respeito dos transgênicos, uma análise científica, desprovida de influências político-econômicas deve ser feita. Assim, argumentos como os utilizados por manifestantes diversos devem ser analisados sob a óptica da ciência e distante de opiniões tendenciosas, marcadas por seu cunho pseudo-científico.