terça-feira, 31 de agosto de 2010

Sobre discos-voadores


Foi publicada recentemente uma nova portaria do Comando da Aeronáutica sobre o "registro e trâmite de assuntos relacionados a 'objetos voadores não-identificados'"
. Assim, pela exautação que o assunto provocou na comunidade de ufólogos, que não é pequena diga-se de passagem, convém um post a respeito de discos-voadores e da existência de vida inteligente em outros planetas.

Primeiramente, é conveniente separar os dois assuntos: enquanto o primeiro possui entusiastas diversos, oferece atrativos a população e geralmente é marcado por pseudociência, o segundo possui estudo científico sério, como a astrobiologia e o projeto SETI. Essa sigla em inglês significa "Search for Extra-Terrestrial Intelligence" e objetiva, com a ajuda de radiotelescópios poderosos, encontrar vida inteligente em outros planetas. Infelizmente, durante esses 40 anos desde que o projeto está em voga, tudo o que tivemos foi o absoluto silêncio, o que claro não significa a ausência de organismos complexos fora de nosso sistema solar. O universo por si só é muito grande, é formado por mais de 80 bilhões de galáxias, nossa Via Láctea é composta por aproximadamente 400 bilhões de estrelas e possui 100 mil anos luz de comprimento, o que torna de fato egoísta e simplista o pensamento de não haver vida inteligente fora de nosso planeta.


Agora, quanto a existência de discos-voadores que nos visitam frequentemente e abduções alienígenas é necessário cetismo, visto que afirmações fantásticas de fato requerem evidências fantásticas, e até o momento presente não houve uma só evidência sobre ovnis ou sequestros por extra-terrestres que parou em pé. Os que afirmam terem sido abduzidos, dizem que têm uma certa lembrança do fato, até narram vividamente o que aconteceu, citam os objetos cirúrgicos utilizados, relatam o desejo nefasto que os alienígenas têm por genitálias e cópula com humanos.


Contudo, com afirmações como essas, esses seres de outro planeta devem ser bem atrasados. Primeiro por fazerem um serviço mal feito e não apagarem por completo a memória terráquea, o que de fato seria benéfico para manter-se o anonimato. Segundo por os instrumentos descritos pelas vítimas serem muito parecidos com o de um cirurgião humano, o que implicaria em uma tecnologia rudimentar para os seres que teriam vindo de uma estrela tão longínqua. E por último esse desejo de se reproduzir com humanos por meio do sexo, o que é retrógrado demais em comparação até com nossa tecnologia genética, com a qual é possível gerar prole sem haver sequer contato sexual. Se esses alienígenas realmente existissem e fossem mesmo evoluídos, decodificariam o genoma do homem e sintetizariam seres com características infinitas para suas experiências, o que seria em termos científicos de fato mais sagaz que copular com uma fêmea humana. Por fim, convém invocar o paradoxo proposto pelo físico italiano Enrico Fermi a respeito das visitas de seres de outro planeta: "se alienígenas extraterrestres são comuns, por que não são óbvios? Onde estão eles?".

Entusiastas e ufólogos até têm uma resposta para essa pergunta, mas uma que não convém o prolongamento do post, uma até comum nos dias atuais que funciona como resposta para questões diversas: a de que existem provas, mas que o Governo está guardando e tudo é uma grande teoria da conspiração.

domingo, 22 de agosto de 2010

Auschwitz anímico


Conforme comentado a alguns, hoje escrevo sobre o aborto. Assunto delicado, que envolve tanto implicações de ordem ética e moral quanto religiosas, o aborto conclama a população esclarecida a debater calorosamente sobre o assunto. Para restringir-me a um campo e não delongar muito o texto, disserto a respeito das incoerências religiosas defendidas por alguns anti-abortistas. O primeiro argumento, amplamente defendido pela Igreja, é o de que durante a concepção, o embrião recebe uma alma e, portanto, uma individualidade espiritual distinta de qualquer outro ser vivo.

Inicialmente, convém ressaltar alguns pontos aparentemente desconhecidos ou ignorados por esses religiosos, como o fato de estatisticamente de 2/3 a 3/4 dos zigotos não se nidarem efetivamente no útero materno. Assim, partindo do pressuposto de que as almas já estivessem presentes nos embriões, haveria um verdadeiro "holocausto anímico" e um desperdício do esforço divino para instaurá-las em seus receptáculos. Religiões distintas da católica, que adotam a metempsicose (transmigração das almas) são mais felizes e poderiam postular que o indivíduo, apesar de morto, teria outra chance em uma vida posterior. Mesmo que relevemos esse ponto e admitamos que 100% dos óvulos já fencudados fixem-se no endométrio e não haja aborto espontâneo, o conceito de alma e seu surgimento durante a vida não resiste por si só. Uma pergunta que faço a mim mesmo é a respeito do tempo que esses espíritos levam para efetivamente entrarem
em seus receptáculos, se levam mais tempo as meninas (48º dia), como afirmou São Tomás de Aquino, ou os meninos (40ºdia).

Esse tipo de argumentação, supersticiosa e sem evidência alguma, torna prosaico demais o desenvolvimento embrionário humano e gera problemas sociais graves. O método abortivo, apesar de amplamente criticado por alguns, se visto sob uma ótica pragmática e utilitarista torna-se louvável. A razão disso é justificada não só por gravidezes indesejadas gerar desagração familiar, comprometimento do futuro individual, mas também por, caso a prática abortiva seja efetivamente penalizada, haver o sobrecarregamento da máquina estatal. Se supormos que todas as pessoas que praticassem o aborto fossem devidamente processadas e presas, seria necessária , segundo Mário Francisco Giani Monteiro e Leila Adesse, a construção de 5,5 presídios por dia, ou seja, um enorme gasto aos cofres públicos e um mau-investimento, considerando-se o número de problemas pelos quais passa nosso país. Soma-se a isso o número de abortos clandestinos, que são de fato uma preocupação à saúde pública e a quantidade de recursos financeiros utilizados durante o tratamento de mulheres que passaram por um processo abortivo invasivo, desprovido de assepcia dos instrumentos cirúrgicos e amplamente perigoso. Portanto, seria sensato uma abordagem lógica a respeito do aborto, desprovida de qualquer caráter religioso, mais pragmática e utilitarista, para que possamos de fato aumentar a qualidade de vida populacional e não sobrecarregar a máquina do Estado.

domingo, 15 de agosto de 2010

Astrologia, uma venda aos olhos


Existem duas maneiras de analisar-se as estrelas: como elas realmente são e como nós gostaríamos que elas fossem. A primeira forma é feita através do escrutínio imparcial da ciência, marcada pelo empirismo e dotada de ferramentas criadas para entender-se o funcionamento do cosmos. Já a segunda maneira é caracterizada por uma ótica supersticiosa, desporovida de qualquer experimentalismo e que postula um universo conectado a nós, capaz de atuar diretamente sobre nosso futuro amoroso, social e financeiro. Mesmo após 300 anos desde que as últimas fundações intelectuais baniram o estudo astrológico, é comum encontrar-se nos jornais, revistas e outras ferramentas da mídia impressa horóscopos e outras citações de astrologia. O homem tem a necessiadade de confortar-se com a idéia de um universo não-alheio a sua existência, de que tudo está conectado, por isso cria significados cósmicos para sua vida. De fato há uma conexão entre os habitantes da Terra e o restante do universo, mas nada simplista como postula a astrologia pré-copernicana, nada enfadonho e deselegante como propõem os astrólogos. A ciência pelo contrário explica como o sol exerce papel fundamental em nossa existência, seja fornecendo energia aos vegetais e indiretamente a nós, ou proporcionando um clima oportuno à vida terrestre. Usar a astrologia para explicar o funcionamento do universo, como bem comparou Richard Dawkins, é como usar Beethoven em jingles comerciais, uma afronta estética. Além da deselegância das previsões astrológicas, casos típicos como o de gêmeos nascidos no mesmo momento (ou com minutos de diferença) provam a ineficácia da pseudo-ciência. Os dois bêbês nesse caso, teriam nascido quando um mesmo astro ou constelação estava em ascendência, o que implica em um traçado de vida semelhante. Contudo, é bem pouco provável que esses dois indivíduos morrerão da mesma forma, visto que um deles poderá morrer em um acidente rodoviário enquanto o outro poderá morrer de alguma doença geriátrica, por exemplo. Convém também dizer o que a princípio parece inofensivo, é na realidade preocupante, visto que em pleno século XXI é ainda comum nas livrarias os livros de astrologia serem vendidos mais que os de astronomia. Após termos percorridos um caminho histórico tortuoso, marcado por inquisições, misticismo e religiosidade, ainda defrontamo-nos com charlatanismos pseudo-científicos, claramente oportunistas e que não resistem a uma análise lúcida dos fatos.

domingo, 8 de agosto de 2010

"O universo não foi feito à medida do ser humano, mas tampouco lhe é adverso: é-lhe indiferente."


Acabo de assistir ao melhor projeto de divulgação científica de que tenho conhecimento. A série "Cosmos" de Carl Sagan é antes de tudo altamente apaixonante. O físico, através do documentário de 13 episódios, procura mostrar como o universo é poético, elegante e de uma forma brilhante narra os maiores fatos científicos da história, como a evolução dos organismos, a descoberta e importância do DNA. Creio que películas como essa deviam ser obrigatórias nas escolas, por além de despertar nos alunos a curiosidade pelo cosmos, conclama-os a ver como a ciência e as descobertas humanas são belas. Carl Sagan foi sem dúvida nenhuma um dos maiores gênios que caminharam sobre a Terra até hoje e promoveu um trabalho fantástico durante essa sua curta passagem de vida. Infelizmente, nos dias de hoje o estudo científico é visto pela maioria das pessoas como algo enfadonho, marcado pelo tecnicismo e pela memorização dos fatos. Os que pensam assim, contudo, muitas vezes não têm culpa, visto que foram educados majoritariamente em um sistema de ensino que privilegia o aspecto teórico e rejeita o experimentalismo, a associação dos fatos com o cotidiano. O sistema de ensino atual, principalmente o brasileiro, carece de pessoas como Sagan e estão repletos de professores maquinistas, que aprenderam ciência através da memorização e que são, na maioria das vezes, completamente desprovidos do fascinio científico. Uma mudança nas escolas brasileiras e mundiais deve ser feita para que possamos formar profissionais mais capazes, aptos a contribuírem substancialmente com os adventos e descobertas humanas. É fato que o Brasil possui bons cientistas e divulgadores científicos como Marcelo Gleiser, mas ainda o número é ainda muito reduzido em comparação com o número total de brasileiros. Garanto que com um número maior de pessoas providas de maior paixão pelo mundo físico, natural e não irgnorantes da beleza do universo, alguns problemas como o descaso e degradação do planeta Terra seriam atenuados.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Ateísmo e maldade


Hoje comento sobre a guerra que o apresentador da TV Bandeirantes, José Luís Datena, declarou aos ateus brasileiros. O caso é mais ou menos o seguinte: Datena,no último dia 27, com o objetivo de comentar a respeito de crimes hediondos, criou uma enquete na qual os telespectadores respoderiam se acreditavam ou não em Deus.
Eis que o âncora, ao ter suas expectativas superadas pelo número de "não" da enquete, resolveu intervir a favor do Todo-Poderoso. Alguns trechos dos comentários do apresentador:
"
-Como? Nós temos mais de mil ateus? Aposto que muitos desses estão ligando da cadeia."
"-Ateus são pessoas sem limites, por isso matam, cometem essas atrocidades. Pois elas acham que são seu próprio Deus."
"-É só perguntar para esses bandidos que cometem essas barbaridades pra ver que eles não acreditam em Deus."
Trechos como esses mostram ignorância quanto a história humana. Como é praxe, sabe-se que a Igreja Católica durante a Idade Média foi um verdadeiro açougue. Nos tempos da Inquisição, o fanatismo religioso era tão fervoso que foram mortas mais pessoas do que todo o Holocausto. A Igreja matou mais que Hitler, Mao Tsé-Tung e Stalin. Assim, argumentos como o do apresentador mostram-se completamente desprovidos de qualquer embasamento lógico e histórico. Soma-se a isso, não só o passado coturbado do catolicismo, mas também o fanatismo religioso recente, marcado principalmente pela Jihad. Extremistas islâmicos, com o objetivo de propagar sua fé suicidam-se com bombas, buscam um paraíso repleto de virgens, e levam consigo várias pessoas alheias ao dogmatismo islâmico. Uma outra ilustração recente da perniciosidade religiosa, que rebate os argumentos de Datena, são os ataques constantes que algumas clínicas de clonagem terapéutica têm recebido por parte de fanáticos religiosos "pro-vida", contrários as pesquisas com células-tronco embrionárias.
Convém também mostrar alguns dados estatísticos para ilustrar o preconceito do âncora. Como prognosticou Datena, caso o ateísmo seja mesmo sinônimo de violência, as prisões deveriam estar repletas de descrentes em Deus. Contudo, estatísticas reveladas por uma funcionária do Birô Federal de Prisões dos EUA de 1997 mostraram que a proporção de cristãos encarceirados é de 80%, mesmo valor da população geral. Muçulmanos, que correspondem a algo entre 1% e 3% dos norte-americanos, eram 7,2% dos presidiários. Os ateus, nesse caso, que remontam 0,4% da população estadunidense, possuem apenas 0,2% de apenados. Datena também parece ter pouco, ou nenhum conhecimento sobre Evolução, visto que a moral, sob visão darwinista, foi fundamental para a sobrevida do Homo sapiens, independentemente da religião, que aliás surgiu dezenas de milhares de anos depois. Para o homem primitivo foi fundamental o altruísmo recíproco, caso contrário, as chances de estarmos aqui seriam drasticamente reduzidas pelo ambiente hostil, pelos perigos que eram proporcionados pela savana africana há aproximadamente 50000 anos atrás.
Seria sensato pedir aos ateus e até aos agnósticos que manifestem-se contra atitudes anti-democráticas e preconceituosas como as do apresentador Datena. O programa "Brasil Urgente", apesar de não ser de meu feitio, tem um alcance nacional muito grande e é altamente manipulativo e tendencioso. Sei que alguns membros da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) já pensam em processar o apresentador, o que é louvável, mas para aqueles que não possuem tamanha predisposição jurídica, que escrevam algum texto e publiquem em alguma rede social.