domingo, 17 de outubro de 2010

Por que voto em Dilma Rousseff


A primeira razão que me faz votar na canditada do PT é o fato de não ser simpático ao PSDB. Seja com FHC e seus programas de privatizações, seja com José Serra e sua não-discussão a respeito da tributação regressiva, ambos tucanos primam por um governo com propostas de caráter elitista, que negam a realidade brasileira. O PT de Lula, ao contrário, mostra o quanto a sigla dos trabalhadores é mais madura e enxerga os empecilhos de nosso país. Afinal, foram 21 milhões de brasileiros que deixaram a miséria e outros 32 milhões que ascenderam a classe média, números pouco menores que a somatória da torcida do Flamengo e do Corinthians. Só para não parecer cabeça-de-planilha, é bom ressaltar que isso representa uma queda de quase metade da pobreza no Brasil. Alguns podem estar se perguntando "mas não seria melhor se a miséria tivesse sido erradicada?". Claro que seria, mas o problema é que 8 anos é muito pouco tempo para solucionar um problema que aflinge o país há séculos. Assim, seja durante o perído colonial, no qual a sangria do país era feita por Portugal por meio do Pacto Colonial, seja durante a Repúblia Oligárquica, quando a concentração fundiária brasileira foi consolidada, a desigualdade social foi construída muito cedo em nosso país e não é possível, em um curto governo, que esses empecilhos seculares sejam resolvidos. Além disso, ouso afirmar que um voto a favor de um candidato tucano serve como apoio à desigualdade da destribuição de renda, como suporte a tributação relativa em menor grau para os mais ricos e o aumento da massa de miseráveis que ainda assola o Brasil.


Algumas pessoas negam os fatos ao chamarem o governo Lula de assistencialista e populista. Caso assim seja, o assistencialismo torna-se o primado de qualquer governo europeu, que por excelência, tem uma política de Estado mínimo capacitada de garantir educação para todos, de assegurar um programa de saúde efetivamente qualificado, de oferecer moradia para os menos capacitados, etc. É complicado apoiar os governos europeus, que regem seus países por meio da melhoria da qualidade de vida dos menos favorecidos, e taxar o governo petista como assistencialista, com uma política paternalista demagógica. Ademais, é conveniente também ressaltar que o conceito de populismo pode ser pouco aplicado ao Brasil de hoje. Governos populistas, como foram os de Vargas, Perón e Cárdenas relizaram políticas nacionalistas de substituição de importações, estatização de atividades econômicas, imposição de restrições ao capital estrangeiro e eram caracterizados por um culto a personalidade do presidente. Lula, contudo, apesar de ter um índice de aprovação governamental que beira os 80%, não freou o capital internacional, não estabeleceu um vínculo emocional e não-racional com o povo (as estatísticas de desenvolvimento provam bem isso) e não promoveu passeatas, desfiles nos quais cartazes gigantescos com sua foto seriam símbolos de idolatria pela classe operária. Chamar o governo petista de populista, portanto, é negar a definição histórica de populismo político.

Agora que falei tanto de Lula e praticamente nada de Dilma, alguns devem estar se perguntando: "isso tudo o que você disse foi o governo do atual presidente, como uma candidata com um histórico político tão pobre, sem carisma e expressivdade alguma, pode garantir o desenvolvimento de nosso país?". Combato esse argumento lembrando que é inocente demais afirmar que, em nosso país, a figura do presidente é preponderante e de suma importância, a ponto de ofuscar os demais poderes. Convém lembrar que vivemos em uma democracia e não em uma ditadura, que nosso governo possui, graças a Montesquieu, três poderes e que o legislativo exerce papel fundamental em uma instituição democrática como a nossa. Assim, rogo do pressuposto de que, por a câmara alta e baixa do Congresso estar, atualmente, repleta de representantes da base aliada do PT, o governo de Dilma não será solitário, mas apoiado pela maioria dos constituintes dos demais poderes. De mais a mais, dizer que Dilma é a sombra de Lula parece negligenciar o fato de que a candidata, como ministra, acompanhou de perto o governo lulista e que, no mínimo, apoiou tudo o que o atual presidente fez, seja quando alavancou o consumo interno, por meio da redução do IPI, e assegurou que o Brasil não fosse afetado fortemente pela crise imobiliária norte-americana, seja com o fato de nós termos nos tornado não mais devedores, mas credotes do FMI. Não nos esqueçamos também que Dilma tem uma trajetória singular, como também tiveram FHC e Lula, visto que foi guerrilheira, torturada durante a ditadura e lutadora a favor de um governo democrático.

Por último, a candidata petista tem meu voto pelo programa do PT no que tange o ensino universitário. É inegável que FHC, durante seu governo neoliberal, fez com que brotassem várias instituições privadas de ensino, muitas destas sem qualidade alguma, que podem ser caracterizadas como verdadeiros negócios oportunistas. Então, acho racional, como uma pessoa que almeja a vaga em uma universidade pública de qualidade, o apoio ao governo petista, que nos últimos anos investiu massivamente nas instituições públicas de ensino. Lula, por exemplo, teve papel fundamental na criação de universidades como a UFTM, UFABC, UFT, UNIFAL, unipampa, etc. Creio, portanto, que seria mais construtivo, como estudante, que o próximo governo continuasse a investir largamente em educação de qualidade, que aumentasse o número de instituições de ensino superior públicas, que gerasse maiores oportunidades de acesso à educação para aqueles com baixa renda e que fomentasse práticas como aumento salarial para professores da rede pública. Acredito, também, que proposta tucana nenhuma é capaz de satisfazer o que almejo e que um governo que prime pelo continuísmo do atual é, no mínimo, melhor que a manutenção das elites no poder.

10 comentários:

  1. Serra Serra Serrador ... serra a Dilma POR FAVOR

    Como seria a versão do mensalão 2011 ?
    Prefiro nem imaginar

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  2. Como seria o pré-sal passando do regimento de partilha para o de concessões? Não esquecendo também que o primeiro "mensalão" foi tucano e serviu como gênese para o mensalão petista.

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  3. Discordo de vc dessa vez Joaner! No q concerne às tributações: o Brasil é um dos países q + paga juros e a realidade do governo petista em nada mudou isso! O q mudou foi o PT, q eu considero agora elitista tb, pois favoreceu como nunca a elite e os corruptos! Alem disso nossa democracia não é tão plena como vc imagina e os 3 poderes não são tão independentes e harmônicos entre si como deveriam. Numa aula sobre processo legislativo percebi q há vários mecanismos de manipulação p/ uma lei ser aprovada.Logo, c/ tantos congressistas petistas isso pode se tornar um risco aos interesses da população! Infelizmente a realidade é q a figura do presidente é sim preponderante, não traduzida em fanatismo como vc imaginou,porem, em influência e manipulação! E depois o presidente finge q não sabia de nenhum esquema de corrupção.Acreditar nisso é q é inocência!

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  4. Ei joão, vc deve ter notado que eu havia comentado esse seu post. Mas,sabe, tanto hesitei, que preferi apagá-lo, até mesmo para não haver qualquer indisposição. Entretando, muito embora divirjamos ideologimante, eu escuto e respeito sua opinião. Não porque quero aqui me dizer, veja só, politicamente correto; mas porque você fundamentou respeitavelmente seu ponto de vista. Isso me chama a atenção, pois há alguns dias eu tive uma discussão com um dos meus professores, o qual fez uso daquele radicalismo militante e tentava caterquisar a nós, alunos. Aquilo tanto me indignou, visto que ele chegou a chamar literalmente de ignorantes os eleitores da Marina Silva (sim, eu votei na Mariana), que travamos por e-mail um verdadeiro debate político, com direito a réplicas e tréplicas. Aliás, para contra-argumentá-lo cheguei mesmo a dar seu texto como exemplo aceitável de expressão política, dado a sua sobriedade. Dessa forma, apesar de num premeiro momento ter hesitado em deixar aqui um comentário, segue aí um parabéns pela fundamentação, afinal eleitor consciente é aquele que - independente de em quem vá votar - sabe porque o faz.

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  5. Só queria deixar claro q não sou do PSDB, tampouco me simpatizo com o mesmo; no entanto, penso q se o PSDB quiser se manter no Poder e impedir uma futura volta petista, Serra terá q fazer o melhor governo da história! Racionalmente só me resta votar nele, já q sou obrigada a escolher! Seria um risco repetir o PT corrupto na presidência.Ah... Não creio q o Serra repita as privatizações neoliberais, pois não se coadunam com a realidade atual, com a "vox populi" e com as prerrogativas de um Estado Democrático de Direito, como é o BR. O EDD, ao contrário da ideologia Liberal, prevê um estado garantista de direitos, portanto, em certa medida intervencionista, "vinculado a um projeto solidário"(comunitário). O Serra não é burro:ao invés de romper, dará continuidade aos programas petistas q deram certo.

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  6. Goiana, não sei como um governo de centro-esquerda como o petista, que tirou 21 milhões de brasileiros da miséria e levou outros 32 milhões para a classe média, pode ser taxado como elitista. Não nego que houve corrupção durante o Governo Lula e, como cidadão, afirmo que não há ideologia partidária que justifique quaisquer atos corruptos, mas creio que é uma tremenda miopia não enxergar os desvios de verbas públicas feitos, por exemplo, durante o governo FHC. Por ter sido muito novo na época e desprovido de qualquer consciência política, não me recordo de muitos fatos, mas acho conveniente relembrar alguns: houve tráfico de influência durante as privatizações (Daniel Dantas obtendo informações privilegiadas na venda de empresas públicas), SIVAM sendo favorecido à empresa americana Raytheon, deputados recebendo dinheiro para serem favoráveis à emenda constituinte da reeleição, etc. Argumentar contra o governo petista utilizando-se da corrupção como fundamento é um pouco perigoso. Caso fosse avesso a qualquer legenda corrupta, não votaria em partido nenhum, já que a própria definição partidária assume um grupo de integrantes e não um único indivíduo. Acho complicado generalizar atos corruptos e extender as acusações ao partido como um todo. Corrupção sempre haverá, independetemente da maioria partidária que governa o país.

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  7. Fala Mr. Gregory! Então, rapaz, professores desse tipo são complicados porque, ao invés de transmitirem conhecimento e serem imparciais, distorcem a realidade e acabam opinando demais a respeito dos fatos. E o pior de tudo é que grande parte dos alunos serve como rebanho para esses docentes e é criado, então, sem exagero, um verdadeiro curral eleitoral. Às vezes, com um eleitorado tão alienado como o brasileiro, me pergunto se ainda estamos na República Oligárquica!

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  8. Belo texto João, opinião formada e com ótimos fundamentos. Em primeiro lugar gostaria só de ressaltar que a Teoria da Tripartição dos poderes foi criada por Aristóteles; Montesquieu apenas disse que eles deveriam trabalhar de forma separada e que 1 fosse fiscalizador do outro. Em segundo lugar gostaria de lembrar que falar que o governo atual é "elitista", há uma certa confusão. Não sei se essa confusão está relacionada com a corrupção (que são situações diferentes que a única coisa que possuem em comum é que ambos são prejudiciais para nosso país). Outra obsevação que eu gostaria de fazer é em relação a um lúcido comentário de que o processo legislativo atual é corrompido e precisa de modificações, pois atualmente podemos falar sem medo de que este procedimento legislativo é inconstitucional (falarei mais sobre). Ja a questão da corrupção, ja foi mais que provado que é um mal que se alastra e que não escolhe partido, porém vem uma das importâncias do debate entre os políticos (que muitos menosprezam ou criticam). Num debate realizado pela rede bandeirantes de televisão, houve a participação apenas dos candidatos a vice presidência da república. Numa pergunta direta e de plena importância um jornalista fez ao candidado Indio da Costa (PSDB/DEM) com o comentário de Michel Temer (PMDB/PT):
    - Jornalista: "Senhor Indio, a corrupção se mostrou clara no governo do PT... PSDB, DEM, PMDB, etc e continuará dando as caras seja pra qual governo esteja lá. O que o senhor pretende fazer?"
    - Indio: "Obrigado por essa pergunta. A corrupção é um mal que precisa ser combatido, podemos ver como este governo que a Dilma participa é corrupto, se ela ganhar, continuará assim precisamos fazer algo pra mudar, por isso é importante nossa atuação lá veja o caso do mensalão, caixa 2 (etc etc etc... e assim Indio estourou seu tempo apenas atacando de forma exastiva o governo atual e um futuro governo Dilma).
    - Michel Temer: "Primeiramente gostaria de registrar que o candidato Indio não respondeu a pergunta do senhor. Agora gostaria de dizer que como realização nossa foi o recente projeto "Ficha Limpa" criado por mim, que diminuirá a impunidade daqueles que ja cometeram atos de corrupção, além disso pretendemos aprimorar este projeto e continuar esta política fiscalizadora que só começou no governo atual pois no passado havia a corrupção mas ninguém era sequer denunciado. Ainda é pouco mas é este o caminho que aponto para este combate."
    A tréplica de Indio nada mais foi do que continuar criticando o governo atual. Em momentos como este é que a população deve parar e pensar um pouco mais em quem pelo menos denuncia os fatos e propõe soluções. Normalmente o público brasileiro exige muito e faz pouco (faço parte deste público), mas em um debate vemos a visão de cada um reprensentado pela figura de seu vice presidente, enquanto 1 critica e não olha para seu proprio governo, o outro mostra os feitos e suas propostas. Pode não dar certo? Pode, pode ser tudo mentira? Pode. Mas quem pelo menos apontou alguma esperança para aqueles telespctadores que estavam lá assistindo? É inegável até para os créticos que foi o candidato do PMDB. Então para concluir meu pensamento sobre corrupção, eu digo o seguinte: "Temos que analisar calmamente o discurso de cada 1, analisar os feitos (não só os negativos como 99% dos críticos fazem) e ver qual lado está passando mais esperança (ou para os pessimistas 'o menos pior')."

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  9. Em relação ao candidato José Serra. Este candidato como a maioria dos candidatos de seu partido possuem um prioridade governamental de forma diferente que vai sim contra o Estado Democrático de Direito. Suas prioridades é que com o forte investimento em grandes empresas e facilitando a entrada de empresas estrangeiras, será proporcionado um grande avanço no mundo econômico, facilitando assim a investidura dos governos nos outros principais setores (educação, saúde, segurança, etc), e por consequência a geração de empregos ja que a chegada das empresas e a investidura nas ja aqui existentes, exigiria uma quantidade maior de trabalhadores. Isto que eu disse nada mais é do que a ideologia neoliberal que num passa de uma utopia. Na verdade nossa maior necessidade é garantir aquilo que o João disse porém com outras palavras de "Patamar mínimo civilizatório", ou seja, priorizar retirar os miseráveis da miséria, os pobres da pobreza, para que com investimento na educação saúde e alimentação, tais pessoas (que representam ainda em torno de 60 a 70% da população brasileira) possam ter qualificação suficiente para começar a se falar em dignidade, esperança, diminuição de violência dentre outros. Política essa que necessita sim de uma intervenção estatal que vai sim de contra aos ideias liberais/neoliberais. Política essa feita com mais vigor, vistosamente no governo Lula com dados e resultados ja apontados no texto principal. Não se ganha eleição fazendo promessas utópicas para atingir aquele necessitado como: "aumentar o salário mínimo para 600 reais no 1° ano, criar 13° para os aposentados, etc etc." Este tipos de promessas "apelonas" apenas me fazem ter a certeza de que o canditado José Serra estava jogando baixo, e tentando de forma desesperada, atingir aquele trabalhador, aposentado, gestante, etc que almeja receber um pouco a mais. Nós estudantes sabemos que essas promessas (segundo ele seriam realizadas no 1° ano de governo) poderiam até ser realizada mas isso geraria um desilibrio enorme nos cofres públicos prejudicando assim outras possíveis ações de uma maior eficácia. Com isso eu concluo este segundo post, dizendo que cada governo possui sim prioridades diferentes, planos diferentes e ações diferentes e que em nosso Brasil aquela que é mais condizente é a prioridade petista, ou seja "investir de baixo para cima, não de cima para baixo". E é por isso que no fim do governo Lula seu índice de aprovação estava acima dos 70% (fato inédito se trando de ser fim de governo e ja ter sido reeleito), lembrando que não foi apenas os pobres que votaram, ou seja, o agrado se estende em uma certa parte da população rica.

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