Imagens como essa falam por si só. Religião sendo levada a seus extremos por um garoto que pouco deve conhecer sobre racionalidade e que foi, com efeito, provavelmente alienado por uma crença fundamentalista e pouco racional. Com essa imagem e esse pequeno texto gostaria de colocar em pauta um assunto por vezes pouco discutido no Brasil, qual seja, a irracionalidade e os perigos gerados pelas religiões.
O debate sobre a credibilidade da religião no país é ainda como a presença daquele grande elefante na sala, um incômodo como foi as discussões sobre sexo nas décadas passadas. Mas por que tudo isso? Por qual motivo discutimos política, falamos sobre futebol e debatemos a respeito de gostos musicais, mas, quando o assunto é crenças religiosas o campo torna-se mais arriscado e a discussão murcha? Qual a diferença em dizer "prefiro os filmes de Kubrick aos de Scorcese e detesto os de Jodorowsky, que são experimentais demais para meu humilde gosto cinematográfico" e perguntar "por que você acredita em Jeová e não crê em Thor, Odin, Osiris, Zeus? Por quais motivos é conveniente crer em entes tão improváveis como deuses?". A diferença, talvez, resida no fato de que discutir religião tornou-se um tabú tão forte que, caso alguém o faça, essa pessoa estará, automaticamente, proferindo uma ofensa à crença do outro e será vista como alguém desrespeitoso e mal-educado. Contudo, esse relativismo é capenga demais. Afinal, qualquer um pode sentir-se ofendido ao ter uma música que gosta, ou então, um filme muito querido criticado. A religião deve ser debatida de forma racional, como se fosse um assunto qualquer e não como um conteúdo restrito, blindado a críticas. Partindo desse pressuposto, alguns aspectos das doutrinas religiosas, como o extremismo da auto-mutilação, da flagelação e das diversas mortes causadas em nome de crenças fanáticas devem estar em pauta, caso queiramos construir uma sociedade mais humanista.
Pergunto-me até que ponto essas práticas extremadas são sadias ao corpo e à mente dos praticantes. É claro que é direito inviolável do homem a liberdade de poder fazer o que bem entender consigo mesmo desde que essas atitudes não impliquem em danos a terceiros. Caso a mutilação seja um desejo individual, então, a liberdade de ir e vir assegura ao praticante o direito à auto-flagelação. No entanto, apesar de a liberdade ser inalienável, os adeptos de rituais religiosos extremos, majoritariamente, estão imersos em uma cultura que prima pouco pelo racionalismo e que são, freqüentemente, fundamentadas em práticas religiosas antigas. É aí que a situação torna-se mais complicada. Os que cresceram em locais nos quais a auto-mutilação corporal é algo comum, certamente tiveram pouco contado com o secularismo, o racionalismo e foram moldados, involuntariamente, de acordo com os costumes locais. O ponto que ressalto aqui é a infeliz falta de opções dos moradores dessas comunidades praticantes de extremismos religiosos, os quais, talvez, caso fossem menos influenciados pelos valores da comunidade, não seriam favoráveis à auto-imolação. Uma pessoa ciente das implicações de seus comportamentos e atitudes é bastante diferente de um indivíduo ignorante das práticas diferentes das suas e inocente quanto às conseqüências de suas atividades culturais.
A discussão sobre religião torna-se, então, muito conviniente. Seja com o objetivo de informar aqueles que desconhecem os preceitos distintos de suas culturas, seja com o intuito de promover o humanismo e o secularismo; os debates religiosos devem sair do obscurantismo e passar ao casual, como é feito nas conversas a respeito de futebol, música e cinema. Ademais, a criticidade é fundamental caso objetivemos o desenvolvimento de uma sociedade menos irracional, menos marcada pelo fundamentalismo religioso e por práticas extremadas como a auto-mutilação.
"Religião não se discute". Acho que todo mundo já ouviu isso. Na verdade, qualquer coisa é discutível, mas assuntos como a religião, tornam-se complicados, uma vez que, há pouco espaço para a racionalidade nesas conversas (principalmente por parte de adeptos) que cedem lugar ao fanatismo ou ignorância.
ResponderExcluirE cá entre nós, se fóssemos discutir religião logicamente, veríamos que toda religião acaba sendo incoerente em diversos pontos. Talvez seja por isso que a lógica ou a razão (ou mesmo a ciência que é fundada nesses dois atributos) tenha dificuldades de andar junto com alguma religião.
Ciência e religião são completamente incompatíveis. Afinal,enquanto uma prima pelo racionalismo, pelo empirismo e está muito disposta a mudar suas idéias caso apareçam evidências para isso; a outra é dogmática e não moverá um milímeto de seu ego, não importando se a geologia mostrar que a Terra tem 4,5 bilhões de anos (não pouco mais de dez mil), ou então, que a Evolução não é só teoria, mas um fato, assim como o heliocentrismo. Algumas religiões são medievais demais para negar alguns aspectos fundamentais da ciência. Agora, apesar de algumas serem menos radicais e mais tolerantes, ainda são incompatíveis com a ciência, haja vista que a improbabilidade da existência de um deus (ou deuses) é grande demais. Por que não deixar de crer em uma entidade tão improvável? Eu já parei de apostar na Mega Sena há muito tempo.
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